Experience Trindade – Porto disponibiliza três circuitos de visita diferenciados. Igreja, Ordem e Full Experience, todos acompanhados por audioguias originais de fácil utilização no telefone. 

  • “Full Experience” (Igreja + Ordem + Torre)

    A Full Experience é o circuito mais completo. Acrescenta aos dois anteriores uma visita à torre e aos terraços da Igreja. Neste percurso é desvendada a narrativa milenar e universal sobre a redenção dos cativos no tempo das cruzadas bem como detalhes arquitetónicos dos bastidores da Igreja. Permite ver a cidade de um ângulo até agora desconhecido.

  • Circuito “Ordem” (Igreja + Ordem)

    O circuito Ordem inclui, para além do templo religioso, a visita às salas do edifício setecentista contíguo. Na Sala da Custódia, no Cofre, nas Escadarias, no Salão Nobre ou no Coro Alto poderá apreciar pela primeira vez o espólio da Ordem, exposto segundo critérios museológicos.

  • Circuito “Igreja”

    O circuito Igreja integra uma cronologia de características museográficas que contextualiza a Ordem da Trindade numa linha temporal desde o século XI até à atualidade. Esta imersão na História universal e local antecede a visita à maior Igreja do Porto.

  • A Ordem da Trindade é uma associação de leigos unidos pela preocupação em cuidar do ser humano em todas as suas dimensões.

    Inicialmente, a Ordem da Trindade foi criada por monges, com o objetivo de ajudar a libertar do cativeiro presos religiosos na Terra Santa.

    Ao longo dos séculos, a ação da Ordem aqui no Porto alargou-se à libertação de todo o tipo de escravaturas e amarras. Fome, pobreza, falta de casa, dificuldade de acesso ao ensino e à saúde.

    Em torno da Ordem da Trindade reuniram-se beneméritos, sobretudo da burguesia do Porto com sucesso nos negócios, que a ajudaram a cumprir esta missão. Em troca de reconhecimento público e de indulgência.

    A ação da Ordem recaiu na área da saúde, ensino e habitação. Criou o Hospital, a Escola e o Asilo. Cuidou de todas as fases da vida, do nascimento até à morte, não esquecendo o acompanhamento espiritual dos fiéis.

    A Ordem da Trindade contribuiu para desenvolver a cidade do Porto, e o seu património está ao serviço da cidade e do país.

  • A construção da Igreja da Trindade, a maior da cidade do Porto, demorou um século. A primeira pedra foi colocada em 1803. O projeto arquitetónico é de Carlos Amarante (1748-1815), autor, entre várias outras obras, da planta do Bom Jesus de Braga e da Capela das Almas, no Porto. Em 1818, substituindo Carlos Amarante, que entretanto falecera, as obras foram entregues ao arquiteto e irmão Trinitário João Francisco Guimarães.

    A construção de todo o complexo foi lenta e conturbada. A bênção da igreja, em 1841, assinalou a sua abertura oficial ao culto público, e em 1846 ficou concluída, com grande pompa, a fachada e a torre sineira do templo. Em fevereiro de 1852, sensivelmente a meio do processo de construção, foi lançada, pelo Conde de Ferreira, a primeira pedra do Altar-Mor.

    Em 1903, 100 anos depois do início da construção, José Marques da Silva assina e conclui o projeto do Altar e Retábulo-mor. O Coro Alto, sobre a entrada da igreja, foi desenhado em 1907 por Luís Couto dos Santos, engenheiro natural do Rio de Janeiro.

  • A Sala da Custódia inicia o percurso até ao cofre da Ordem da Trindade. Em meados do século XX, as duas salas até chegar ao cofre foram usadas para expor retratos, pintura, escultura, alfaias litúrgicas, paramentos, cerâmica e outros bens e documentos pertencentes à Ordem. Esta ala do edifício passou a ser conhecida como “museu”, apesar de nunca ter estado aberta ao público.

  • As roupas utilizadas nas celebrações litúrgicas têm origem nas vestimentas gregas e romanas e diferem das usadas no quotidiano, dando importância e distinção ao momento do culto. A forma larga das vestes litúrgicas oculta o corpo e despersonaliza-o, apagando a individualidade de quem celebra para dar protagonismo a Cristo e não a quem ministra em seu nome. Nesta sala podemos ver um conjunto de vestes litúrgicas exteriores, composto por Capa de Asperges, Dalmática e Casula, produzidos propositadamente para a Ordem da Trindade. As cores dos paramentos são diferenciadas ao longo do Calendário Litúrgico.

  • A existência de uma Casa Forte era fundamental para guardar os bens valiosos da Ordem. As pratas e alfaias litúrgicas em prata, as ofertas dos beneméritos e de agradecimento por graças concedidas, outros objetos que pudessem ser alvo de roubo eram aqui guardados.

    Grande parte do tesouro original desapareceu. Foi confiscado, durante as Invasões Francesas: tanto pelo governo português, em 1807, que exigiu prata para acudir ao esforço de guerra, como pelos homens de Napoleão, em 1808

  • As paredes da escadaria de acesso ao salão nobre foram utilizadas ao longo dos tempos para homenagear alguns dos beneméritos mais ilustres, através de retratos executados por pintores locais. Na parte superior da pintura, quase sempre está mencionada a quantia monetária oferecida pelo benemérito, para ficar como memória futura associada ao seu nome e imagem.

    A dimensão dos retratos reflete a importância dos donativos e do estatuto social do benemérito. Esta prática, além do carácter social, revela uma necessidade de redenção e funcionava como uma indulgência.

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  • O salão nobre, ou sala dos mesários, era o local onde se reunia a direção da Ordem. Espaço de aparato, com retratos e algum mobiliário decorativo, onde se destaca a mesa de reuniões, peça central e simbólica da função do espaço, o cofre, vitrina com condecorações, oratório e a antiga cadeira do visconde da Trindade com o respetivo brasão.

  • A escadaria de acesso aos pisos superiores foi utilizada como Galeria dos Provedores. É comum em muitas instituições perpetuar a memória dos seus dirigentes através de um retrato a óleo, representando a personalidade com os seus atributos e símbolos. Os provedores, personalidades que se destacam na sociedade, são os administradores principais da Ordem, presidem à mesa e são eleitos por mandatos que podem ser renovados. Originalmente eram dedignados por priores.

    A Igreja da Ordem é gerida por um clérigo, denominado reitor.

  • A Sala da Escultura reúne uma parte da estatuária religiosa pertencente à Ordem, crucifixos e Nossas Senhoras. Entre outras, destacam-se as peças da Escola de Gaia e dos santeiros de São Mamede do Coronado, dois movimentos artísticos locais de finais do século XIX princípios do século XX, ligados à escultura, o primeiro mais erudito e o segundo de cariz popular. Expoentes máximos da Escola de Gaia são Soares dos Reis (1847-1889), José Joaquim Teixeira Lopes (1837-1918) e António Teixeira Lopes (1866-1942).

    José Ferreira Thedim (1892-1971), autor da iconografia oficial de Nossa senhora de Fátima, foi um dos mestres mais reconhecidos dos santeiros de São Mamede do Coronado, uma escola que continua hoje a ser um centro de produção de arte sacra, sobretudo escultura em madeira, com oficinas de vários artesãos herdeiros de um saber fazer que passou de pais para filhos. Thedim deu visibilidade aos santeiros de São Mamede do Coronado, pequena localidade perto do Porto.

  • A coleção de pintura da Ordem é proveniente, na sua maioria, de uma doação de cinquenta obras, feita por José Eleutério Barbosa de Lima, em 1838. A maioria dos quadros é de temática religiosa e de qualidade díspar. Cópias das escolas espanhola e italiana, executadas entre o século XVIII e inícios do século XIX.

  • O pálio processional da Ordem é um dossel móvel constituído por oito varas envergadas por homens que sustentam a armação em tecido decorado. Esta armação seguia no fim da procissão, atrás de seis padres envergando capas de asperges. Debaixo do pálio ia o capelão do hospital e o reitor. O reitor levava um relicário de prata com o fragmento do Santo Lenho, autenticado pelo Papa Pio IX à Infanta Isabel Maria de Bragança, em 1864.

  • A coleção de cerâmica da Ordem reúne peças de faiança de produção nacional e de porcelana de produção europeia e oriental. As peças mais icónicas são as Jarras de Altar com a Cruz Trinitária usadas para ornamentar as mesinhas de cabeceira e os lavatórios das camas do hospital, inaugurado em 1852. As jarras foram produzidas na antiga fábrica de cerâmica de Santo António de Vale de Piedade, junto ao rio Douro, em Vila Nova de Gaia.

    Entre outras peças cerâmicas ligadas às funções assistencialistas da Ordem, podemos ver os conjuntos de cerâmicas orientais e ocidentais doados pelo terceiro Visconde da Trindade, Eduardo Navarro.

  • O Coro Alto faz a ligação superior entre os dois lados da igreja e acolhe o órgão de tubos. O espaço foi projetado em 1907. pelo engenheiro Luís Couto dos Santos, que nasceu no Rio de Janeiro em 1872. Couto dos Santos foi também diretor dos serviços de transportes públicos do Porto, desenhando até a central energética dos elétricos, atual Museu do Carro Elétrico.

  • Entre as primeiras cruzadas e a atualidade o conceito de cativo mudou muito.

    Os primeiros cativos eram os cristãos aprisionados na Terra Santa, no Médio Oriente e em África. Depois, homens, mulheres e crianças raptados por corsários na costa ou em alto mar, entre os séculos XVI e XVIII. Um cativo célebre, foi o próprio escritor Miguel de Cervantes, capturado em 1575, no Mediterrâneo.

    Estas incursões de pirataria para raptar pessoas deu origem ao provérbio Há mouro na costa. É uma expressão usada em Portugal em sentido metafórico para referir perigo iminente.

    Há registo de milhares de vítimas desta forma de corso. Os resgates dos cativos eram uma fonte de rendimento para os piratas muçulmanos. No caso de não haver lugar a pagamento ou enquanto não eram resgatados, os cativos eram usados como escravos. As mulheres, normalmente, eram vendidas para os haréns.

    Tendo como missão o resgate dos cativos, a Ordem da Trindade e os seus patriarcas têm como atributos os grilhões dos prisioneiros, o que se reflete em toda a iconografia, nomeadamente nas grandes esculturas de João Batista Ribeiro, colocadas na frontaria da igreja em 1850.

    As esmolas para pagamento dos resgates eram recolhidas através de peditórios ou de doações. Na tradição Trinitária, a primeira esmola foi um remédio de cariz milagroso, a chuva de moedas que Nossa Senhora dos Remédios fez cair sobre São João da Mata, para a sua primeira missão de resgate.

    A partir do 1755, a ação da Ordem Terceira da Trindade recaiu na libertação da pobreza, do analfabetismo e da doença. São essas algumas das novas formas de cativeiro e prisão do ser humano.